Em um desdobramento importante no caso que se arrasta há anos, a massa falida da Celsius Network garantiu um acordo de US$ 299,5 milhões com a emissora de stablecoin Tether, encerrando uma disputa judicial relevante no processo de reestruturação da empresa. A decisão representa apenas uma fração da reivindicação original da Celsius — cerca de 7 % dos US$ 4,3 bilhões que alegava ter direito em danos causados pela liquidação de colaterais em bitcoin antes do prazo previsto.
A ação foi movida em agosto de 2024 perante a Corte de Falências do Distrito Sul de Nova York, buscando reaver mais de 39.500 bitcoins cuja liquidação pela Tether era contestada por suposto desrespeito ao período contratual de espera de 10 horas. Em julho de 2025, o juiz Martin Glenn autorizou que a maioria das cláusulas da reivindicação prosseguisse, abrindo caminho para o acordo.
Contexto e impacto para credores, Tether e o mercado cripto
A Celsius entrou com pedido de recuperação judicial em julho de 2022, após anunciar um rombo de US$ 1,2 bilhão no balanço. Desde então, sua reestruturação envolveu vendas de ativos, litígios e grandes batalhas judiciais com credores, reguladores e parceiros. O montante acordado com a Tether, ainda que relevante, representa uma concessão expressiva: ao reconhecer o valor menor, a estrutura da recuperação evita prolongar litígios que poderiam comprometer recursos e atrasar pagamentos aos credores.
Para a Tether, historicamente resistente às alegações da Celsius, o acordo simboliza uma retirada estratégica. Antes, a empresa havia classificado o processo como “infundado”, acusando a Celsius de buscar responsabilizar terceiros por falhas de gestão interna. Agora, ao confirmar a quitação das questões relativas à falência da Celsius, a Tether ganha o direito de encerrar uma disputa de alto risco e custo reputacional.
Do ponto de vista dos credores da Celsius, o resultado é uma mistura de alívio e insatisfação. Um montante recuperado pode acelerar distribuições, mas muitos esperavam reaver uma parcela muito maior. Ainda assim, o acordo oferece previsibilidade e encerra incertezas judiciais que pairavam sobre um dos processos mais emblemáticos da cadeia cripto.
No mercado cripto, essa resolução simboliza avanço na normalização e no amadurecimento das disputas judiciais envolvendo ativos digitais. Casos como esse contribuem para construção de precedentes jurídicos, definindo limites de recuo, prazos e responsabilidades em contratos envolvendo criptomoedas e colaterais digitais — temas cada vez mais cruciais para investidores institucionais.
Para Tether, o corte de um litígio de monta como esse também pode ser interpretado como fortalecimento de sua posição no ecossistema de stablecoins. Ao encerrar esse capítulo, a empresa diminui riscos legais e reforça apelo institucional, ainda que parte da controvérsia permaneça viva nos debates regulatórios e de governança do setor.