A Binance voltou ao centro das atenções após anunciar que desembolsou cerca de US$ 283 milhões em compensações a usuários afetados por desajustes nos preços de alguns ativos durante o crash da última sexta-feira. O episódio foi considerado um dos mais marcantes do ano, não apenas pelo valor da indenização, mas também pelo impacto na confiança dos investidores em uma das maiores exchanges do mundo.
O problema ocorreu com três ativos ligados ao programa Binance Earn: USDe (emitido pela Ethena), BNSOL (token de staking líquido da Solana) e WBETH (token de staking líquido da Beacon Chain). Esses ativos sofreram o chamado “depeg”, ou seja, se desvincularam momentaneamente do valor de referência ao qual deveriam estar atrelados. Isso afetou diretamente usuários que usavam esses tokens como garantia em operações de margem, futuros ou empréstimos, além de resgates e transferências internas.
O desajuste ocorreu em um intervalo crítico de cerca de 40 minutos, entre 21h36 e 22h16 UTC. Nesse período, as cotações dentro da Binance apresentaram desvios acentuados, o que desencadeou liquidações forçadas e perdas significativas para diversos usuários. Curiosamente, em outros mercados o impacto não foi tão severo, o que indica que parte do problema estava restrita à forma como a Binance tratava os preços desses ativos internamente.
A exchange, em comunicado, negou rumores de que o episódio teria sido causado por um ataque ou manipulação deliberada. Segundo a empresa, a queda generalizada do mercado global foi o fator que desencadeou o problema. Ainda assim, líderes do setor cripto questionaram a narrativa. Representantes da Ethena, por exemplo, destacaram que o desvio em relação ao USDe foi muito mais profundo na Binance do que em mercados de maior liquidez.
Críticas também foram levantadas sobre a forma como a Binance utilizava seus oráculos de preços. O sistema teria se baseado em índices internos com baixa liquidez, em vez de consultar fontes mais amplas e robustas, o que teria intensificado o descolamento dos preços. Outro detalhe que agravou a situação foi a execução de ordens antigas, abertas há anos, que foram ativadas justamente durante o crash, provocando quedas momentâneas ainda mais bruscas em alguns pares de negociação. Em casos extremos, houve exibição de preços zerados em determinados ativos, fruto de falhas técnicas.
Diante da crise, a Binance anunciou uma série de medidas para reforçar seus mecanismos de segurança e evitar novos episódios semelhantes. Entre elas, estão a inclusão de preços de resgate como referência nos índices, a criação de um “piso suave” para o USDe e ajustes técnicos para corrigir erros de exibição em pares com valores extremados. Além disso, a empresa segue analisando pedidos adicionais de compensação, já que alguns usuários ainda aguardam revisão de seus casos.
Esse episódio gera reflexões importantes sobre a segurança das exchanges centralizadas. Embora a Binance tenha agido rapidamente ao indenizar os prejudicados, o fato de que problemas estruturais internos provocaram perdas tão grandes levanta dúvidas sobre a solidez dos sistemas de gestão de risco. Para os investidores, fica o alerta de que até ativos considerados “estáveis” podem se tornar frágeis em momentos de estresse de mercado.
No fim, o pagamento bilionário em compensações representa tanto um gesto de responsabilidade quanto uma tentativa de preservar a reputação da Binance. Mas o desafio real será provar, nos próximos meses, que os ajustes implementados são suficientes para evitar que incidentes semelhantes voltem a ocorrer. Afinal, confiança no mercado cripto é construída lentamente — e pode ser abalada em questão de minutos.