O Bitcoin (BTC) voltou a operar abaixo dos US$ 90 mil, marcando um momento de forte correção e volatilidade no mercado de criptomoedas. Segundo a CoinDesk, a criptomoeda recuou cerca de 4,2% nas primeiras horas de negociação nos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que o Ethereum sofria uma queda de 6%, chegando a negociar abaixo de US$ 3 mil. 
Cenários por trás da queda
Um analista da K33 Research afirmou que a correção atual do Bitcoin, desde a máxima de cerca de US$ 126 mil alcançada no início de outubro, está entre as mais acentuadas e rápidas já vistas nos últimos ciclos, especialmente quando considerada a duração de apenas 43 dias. Ele aponta que os níveis entre US$ 84 mil e US$ 86 mil podem se tornar uma zona de suporte local, caso o mercado continue em tendência de realização de lucros.
Além disso, o movimento para baixo é alimentado por uma combinação perigosa: liquidez aparentemente menor, percepção de que os fluxos para ETFs de Bitcoin à vista esfriaram, e uma conflagração técnica que acendeu alertas entre os investidores, especialmente após a formação de um “death cross” entre médias móveis. Esse tipo de padrão técnico costuma despertar pânico, pois muitos participantes associam a formação à possibilidade de quedas prolongadas ou a longo prazo.
Pressão macroeconômica e liquidez
Parte significativa da retração também reflete preocupações macroeconômicas. O Fed (Banco Central dos EUA) promoveu um corte de 25 pontos-base nas taxas de juros, mas o grande ‘problema’ foi o tom cauteloso usado por Jerome Powell, presidente da instituição. Ele indicou que cortes futuros, incluindo um potencial em dezembro, não estariam garantidos. Esse tipo de sinal gerou um “efeito venda na notícia” (“sell-the-news”), no qual investidores que esperavam mais estímulos ficaram mais defensivos.
Essas incertezas levaram a uma limpeza de posições alavancadas no mercado de futuros. Dados da CoinGlass, citados pela CoinDesk, mostram que cerca de US$ 817 milhões em posições foram liquidadas em 24 horas, com grande parte das perdas concentradas em posições compradas (“longs”).  Exchanges como a Hyperliquid registraram os maiores volumes, seguidas por Bybit e Binance, indicando que muitos traders estavam excessivamente alavancados e foram pegos no movimento contrário. 
Sentimento de mercado — medo real
Com essa combinação de fatores, o sentimento no mercado cripto voltou a ficar muito negativo. A CoinDesk reportou que o Crypto Fear & Greed Index caiu para níveis extremamente baixos, o que indica “medo extremo” entre os investidores.  Isso é particularmente preocupante para quem entrou na alta recente: muitos podem decidir realizar perdas, provocando um efeito dominó de vendas adicionais.
No entanto, essa mesma capitulação pode servir como ponto de inflexão para investidores de mais longo prazo. Em ciclos anteriores, episódios de forte liquidação e medo intenso foram usados por “baleias” (investidores grandes) para acumular novamente, aproveitando o momento para posicionar-se para uma eventual retomada futura.
Impacto institucional e técnico
A queda também está refletida nas ações ligadas a criptoativos. Empresas como a MicroStrategy (MSTR), mineradoras como a BitMine e até fintechs como a Circle (CRCL) registraram quedas entre 8% e 9%, segundo a CoinDesk.  Isso sugere que o ajuste não é só simbólico para os traders de varejo, mas está sendo sentido em toda a cadeia institucional.
Do ponto de vista técnico, a quebra de certos suportes e a média móvel de 200 dias, combinadas com o cruzamento de médias (“death cross”), podem reforçar a pressão de baixa no curto prazo. Porém, se os níveis de US$ 84-86 mil se mostrarem relevantes, podemos estar diante de um fundo local, ou ao menos de uma zona de acumulação significativa.
Cenários possíveis daqui para frente
- 1. Suporte defendido: se o BTC encontrar sustentação entre US$ 84-86 mil, investidores de longo prazo podem começar a acumular. Esse cenário pode reforçar uma base sólida para uma nova perna de alta, especialmente se os fluxos dos ETFs voltarem ou se os investidores institucionais retomarem compras.
- 2. Pressão adicional: se a venda continuar ou se intensificar, há risco de testar valores mais baixos. Liquidações adicionais, especialmente entre traders alavancados, podem amplificar a queda. Além disso, um ambiente macro mais hostil (juros altos, inflação, menor liquidez) poderia segurar o ímpeto de recuperação.
- 3. Reversão técnica: se os mercados se acalmarem, com a lição de mercado sobre alavancagem, pode haver uma recuperação rápida. A recente correção pode servir para “limpar” posições especulativas e preparar o terreno para um movimento de alta renovado.
A queda do Bitcoin abaixo de US$ 90 mil representa um momento delicado para o mercado de criptomoedas: é, ao mesmo tempo, uma correção forte e um possível ponto de entrada para aqueles que acreditam em uma retomada futura. O risco, no entanto, é real, a combinação de macro, liquidez e alavancagem pode desencadear mais volatilidade.
Para investidores mais conservadores, esse pode ser um momento para reduzir alavancagem ou proteger exposição. Já para os mais ousados, a potencial zona de US$ 84-86 mil pode ser um alvo estratégico para acumulação, se confirmada por volume e apoio técnico.