Em 2017, o governo da Bulgária apreendeu mais de 213 mil Bitcoins durante uma operação contra crimes cibernéticos. Os ativos digitais foram confiscados de uma rede que utilizava malwares para fraudar processos de importação e manipular sistemas alfandegários. À época, o valor total estimado da apreensão era de cerca de US$ 3,5 bilhões, uma soma impressionante, ainda mais se comparada à dívida pública da Bulgária na ocasião, que girava em torno de US$ 13 bilhões.
Entretanto, o governo búlgaro optou por vender esses ativos no ano seguinte, em 2018. A decisão foi considerada prudente por algumas autoridades, que alegaram o risco elevado da volatilidade das criptomoedas e a ausência de regulamentações claras para manter Bitcoin como parte das reservas oficiais. No entanto, com a recente valorização do Bitcoin, que atualmente ultrapassa a casa dos US$ 120 mil, os mesmos ativos poderiam hoje estar avaliados em mais de US$ 25 bilhões, superando toda a dívida pública atual do país.
A situação levanta uma discussão importante sobre a postura dos governos em relação às criptomoedas. Se a Bulgária tivesse mantido, mesmo que parcialmente, os Bitcoins em seu poder, poderia hoje estar com as contas públicas saneadas, ou ao menos com um colchão financeiro robusto para enfrentar desafios econômicos. A venda precipitada, que parecia estratégica em 2018, se mostrou uma das decisões mais onerosas da história econômica recente do país.
Diversos analistas apontam que o episódio é um exemplo claro de como o desconhecimento e o receio diante de novas tecnologias podem levar a decisões conservadoras e, por vezes, equivocadas. A retenção de pelo menos uma parte desses ativos — com uma estratégia de diversificação e proteção contra volatilidade — poderia ter gerado ganhos bilionários, sem comprometer a estabilidade financeira nacional. Com a venda total dos Bitcoins, a Bulgária abriu mão não só de um ativo em plena ascensão, mas também da possibilidade de ser pioneira no uso estratégico de criptomoedas em políticas fiscais.
Além da perda financeira direta, a Bulgária também perdeu a chance de se posicionar globalmente como uma nação com visão de futuro em termos de ativos digitais. Em um cenário onde diversos países estão começando a considerar a inclusão de criptomoedas em suas reservas — ainda que de forma tímida — o caso búlgaro se destaca como um alerta: o custo de não entender o potencial das novas tecnologias pode ser alto.
Hoje, com o Bitcoin consolidado como um dos ativos mais valorizados do mundo, o episódio da Bulgária serve como um estudo de caso para governos que eventualmente venham a confiscar, apreender ou ter acesso a criptomoedas. A lição é clara: decisões de curto prazo, motivadas por medo ou desinformação, podem significar a perda de oportunidades históricas. Manter ativos digitais sob custódia, com visão estratégica e planejamento de longo prazo, pode representar não apenas um ganho financeiro, mas também um posicionamento geopolítico diante de uma nova era econômica global.