A empresa regulada de infraestrutura blockchain Paxos Trust Company anunciou uma parceria estratégica com a plataforma de folha de pagamento Toku que permitirá aos seus colaboradores receber parte dos salários em sua stablecoin própria, USDG. A integração com os sistemas de pagamento corporativo ADP e Workday fará com que os pagamentos sejam liquidados instantaneamente, diretamente na carteira digital do empregado, sem necessidade de aguardar o processamento tradicional em conta bancária. Essa iniciativa coloca a Paxos na linha de frente da adoção prática de stablecoins além do trading — ela passa a conectar ativos digitais com a economia do dia a dia.
Segundo os executivos envolvidos, esse movimento marca um passo decisivo para tornar a USDG um meio de pagamento funcional e comum dentro de empresas e ambientes de trabalho. Com a opção de pagamento em stablecoin, a Paxos pretende levar o token “ao fluxo de recursos originário” — ou seja: ao salário — e não apenas como veículo de alocação ou especulação. A integração abre caminho para que colaboradores escolham alocar parte de seus vencimentos em USDG, com liquidação automática, ou continuar recebendo em moeda fiduciária tradicional. A perspectiva é que, com o tempo, outras empresas — inclusive bancos e grandes corporações — adotem modelos semelhantes.
Por que essa iniciativa importa
O anúncio da Paxos representa um momento de virada para as stablecoins e para sua adoção cotidiana. Até agora, muitos desses tokens eram usados para trading, arbitragem ou como ponte entre cripto e fiat. Incorporar o pagamento salarial direto em stablecoin significa aplicar o ativo digital ao “dinheiro que entra no bolso”, não apenas ao dinheiro que circula entre carteiras. Essa funcionalidade eleva a utilidade da USDG e fortalece seu papel como meio de pagamento, não somente reserva de valor ou instrumento de liquidez.
Além disso, ao permitir que empregados recebam parte do salário em USDG de forma imediata, a Paxos reduz a dependência de sistemas bancários tradicionais, transferências demoradas ou bloqueios operacionais. Isso também reforça a proposta de valor da stablecoin: liquidação rápida, acessível globalmente, com potencial de integração a serviços financeiros descentralizados ou remessas internacionais. O que está em jogo é a transição de “criptomoeda” para “moeda corporativa operativa”.
Consequências para o ecossistema corporativo e regulatório
Para o ambiente corporativo, a iniciativa abre novas oportunidades — e desafios. Empresas que operam globalmente, com equipes distribuídas e múltiplas jurisdições, podem ver nas stablecoins uma alternativa para pagar trabalhadores em diferentes países com agilidade, evitando atrasos, câmbio desfavorável ou intermediários bancários. A Toku, que automatiza esse fluxo via APIs integradas, enfatiza que “quando você entra no fluxo de pagamento, há uma grande opcionalidade” — e que a tecnologia agora está madura o suficiente para suportar essa transição corporativa.
Reguladores, controladores de impostos e autoridades trabalhistas têm novos pontos para acompanhar: remuneração via stablecoins implica conformidade com leis trabalhistas, tributação, câmbio, custódia de ativos digitais e segurança das carteiras dos empregados. A adoção em larga escala exigirá clareza regulatória sobre emissão, conversão, finalização de pagamento e auditoria. Para a USDG, e para a Paxos, essa novidade coloca o stablecoin no centro de um movimento que pode acelerar a profissionalização e a regulação das criptomoedas como meio de pagamento.
O que observar daqui para frente
Alguns indicadores serão fundamentais para avaliar o sucesso dessa estratégia:
- Quantas empresas além da Paxos adotam o modelo e quantos colaboradores optam por receber em USDG.
- A velocidade e abrangência geográfica da adoção — especialmente em mercados além dos EUA.
- Como será tratado o processo de conversão de USDG em moeda fiduciária e o impacto nos impostos e regulamentos de cada país.
- A liquidez da USDG e a forma como o mercado absorve pagamentos em grande escala — se haverá impacto no token, na custódia ou na infraestrutura.
- A evolução da regulação — se autoridades de mercados, bancárias ou trabalhistas irão requerer relatórios específicos para pagamentos em stablecoins.
A iniciativa da Paxos de permitir salários em USDG representa mais que um experimento — é um passo concreto rumo à integração das criptomoedas no cotidiano corporativo. Ao conectar stablecoins ao pagamento de salários, a empresa não só aumenta a utilidade da USDG, mas também envia um sinal forte ao mercado: moedas digitais podem estar entrando no fluxo tradicional de remuneração. Para empresas, funcionários, instituições financeiras e reguladores, esse é um momento de transição — e de oportunidades. As stablecoins já não são apenas ferramenta de trading; começam a se tornar peça funcional da economia.