As duas principais agências reguladoras dos Estados Unidos, a SEC (Securities and Exchange Commission) e a CFTC (Commodity Futures Trading Commission), anunciaram uma iniciativa inédita para harmonizar suas abordagens em relação ao setor de ativos digitais. O foco está em áreas que têm crescido de forma acelerada e que ainda carecem de definição regulatória clara, como as finanças descentralizadas (DeFi) e os contratos perpétuos de criptomoedas. Essa cooperação tem como meta reduzir sobreposição de jurisdição, aumentar a previsibilidade para empresas do setor e proteger investidores.
A decisão de trabalhar em conjunto surge em um momento de intensa expansão dos mercados digitais. Exchanges offshore que oferecem contratos perpétuos atraem grande parte da liquidez global, enquanto protocolos DeFi desafiam as estruturas tradicionais de supervisão. A ausência de regras claras nos Estados Unidos fazia com que muitos participantes evitassem operar no país ou recorressem a soluções paralelas. Agora, com esse esforço, as agências buscam trazer maior clareza regulatória e criar condições para que empresas possam atuar dentro das regras, sem abrir mão da inovação.
DeFi, perps e produtos híbridos na mesa de debate
Um dos principais pontos de atenção são os contratos perpétuos, instrumentos derivativos que não têm data de vencimento e que são extremamente populares no mercado global. Embora movimentem volumes bilionários todos os dias, esses produtos ainda não tinham estrutura regulatória definida nos Estados Unidos, o que os deixava restritos a plataformas estrangeiras. Com a harmonização, existe a possibilidade de que eles sejam listados em exchanges locais registradas, oferecendo maior segurança e transparência aos usuários.
No caso do DeFi, os desafios são ainda maiores. Protocolos de empréstimos automatizados, pools de liquidez e mercados descentralizados operam sem intermediários e em ambiente global, o que dificulta o enquadramento legal. A discussão entre SEC e CFTC pretende construir bases para supervisionar esses produtos sem sufocar o potencial de inovação. O debate também inclui produtos híbridos, como operações spot alavancadas e estruturas que misturam características de valores mobiliários e commodities.
Roundtable para aproximar reguladores e mercado
Como parte do processo, as agências planejam realizar uma mesa-redonda multilateral ainda este mês. O encontro reunirá representantes de ambas as instituições, especialistas do setor, operadores de mercado e advogados especializados em cripto. O objetivo é promover um diálogo aberto sobre riscos, oportunidades e desafios de supervisão, especialmente em relação a liquidação automática, segurança de custódia, transparência e mitigação de riscos em operações 24 horas.
Essa roundtable é vista como um marco de abertura regulatória. Ao invés de apenas impor regras de cima para baixo, as agências buscam ouvir os principais atores do ecossistema antes de definir um quadro normativo definitivo. É um sinal claro de que os Estados Unidos querem liderar a regulação do setor em vez de apenas reagir às movimentações de mercado.
Impactos esperados para o setor
O movimento conjunto entre SEC e CFTC pode gerar transformações importantes:
- Previsibilidade regulatória – empresas terão mais clareza para inovar dentro do país.
- Unificação de regras – reduz disputas de jurisdição e evita contradições entre agências.
- Atração de liquidez – contratos perpétuos e outros produtos poderão migrar para exchanges americanas registradas.
- Proteção ao investidor – maior supervisão, padrões de transparência e mitigação de riscos.
- Fortalecimento do mercado – reforço da posição dos EUA como polo de inovação e regulação responsável.
A cooperação entre SEC e CFTC representa um passo histórico na evolução do mercado de criptomoedas nos Estados Unidos. A harmonização regulatória em torno de DeFi, contratos perpétuos e outros produtos digitais mostra que o país está disposto a criar um ambiente de negócios mais seguro e previsível, sem sufocar a inovação.
A realização da mesa-redonda ainda este mês será determinante para definir os rumos do setor e pode se tornar o ponto de partida para um novo ciclo de expansão, agora respaldado por regras claras e consistentes. Esse alinhamento abre espaço para que o ecossistema cripto amadureça, atraindo tanto investidores individuais quanto institucionais, e posicionando os EUA como referência global em regulação de ativos digitais.