A rede Solana anunciou uma ambiciosa iniciativa para aprimorar sua microestrutura de mercado e consolidar-se como base para mercados de capitais globais. Intitulada ACE (Application-Controlled Execution), a proposta permite que aplicações on‑chain assumam o controle da ordem de execução das transações — função antes exclusiva dos validadores. O objetivo é oferecer maior flexibilidade, eficiência e personalização, reduzindo conflitos e permitindo execução sob demanda, com recursos como anti-sniping em lançamentos de tokens e regras customizadas de precificação.
Essa mudança estratégica marca uma evolução na proposta de valor da rede: além da alta capacidade de throughput e finalização quase instantânea, Solana agora trabalha para se posicionar como infraestrutura compatível com negociações de alta frequência e sistemas similares aos das bolsas tradicionais. O roadmap prevê ferramentas complementares como o Block Assembly Marketplace (BAM), o backbone de fibra DoubleZero e o motor de consenso Alpenglow, que juntos tornam possível a execução modular, redução de latência e experimentação de diferentes modelos de mercado sem sacrificar a descentralização.
O framework ACE rompe com o modelo tradicional de líder único, permitindo que aplicações definam sua própria lógica de sequenciamento de ordens. Esse modelo viabiliza cenários como “speed bumps”, proteção de cotações e execução privada de ordens, tornando a rede mais atraente para criadores de mercado, instituições financeiras e desenvolvedores de finanças descentralizadas (DeFi) que buscam eficiência profissional.
O BAM, que começou a ser lançado em julho, já permite que aplicativos incorporem lógica customizada na montagem dos blocos. O sistema utiliza ambientes isolados (TEEs) e torna o espaço de bloco da Solana um ambiente programável onde regras específicas podem ser aplicadas por cada dApp. O DoubleZero, de baixa latência, deve entrar na rede principal até setembro, substituindo parte da internet pública por uma backbone de fibra que reduz jitter e variações de tempo entre validadores.
Finalmente, o Alpenglow, previsto para final de 2025 ou início de 2026, eleva a capacidade de consenso a cerca de 150 milissegundos por bloco e introduz múltiplos líderes simultâneos, simplificando o código e preparando o terreno para funcionalidades como APE (execução assíncrona) e MCL (multiple concurrent leaders).
Impactos esperados para o ecossistema e investidores
Com a execução controlada por aplicações e infraestrutura robusta, Solana caminha para se tornar um ambiente apto a abrigar mercados de capital modernos: plataformas de negociação de derivativos, contratos perpétuos, exchanges descentralizadas com menor deslizamento e regras de mercado customizadas.
Para investidores e desenvolvedores, isso significa acesso a sistemas que podem oferecer execução mais justa, preços melhores e latência competitiva sem abrir mão da segurança descentralizada. O modelo permite testes contínuos em produção, adaptando regras conforme o comportamento real dos usuários — algo raro no universo blockchain tradicional.
A longo prazo, Solana pode atrair fluxos institucionais e ser opção para novos ETFs, carteiras de liquidez e aplicações financeiras on-chain que exigem infraestrutura com performance comparável aos sistemas centralizados. Esse foco em microestrutura pode posicionar Solana à frente de outras redes que priorizam apenas escopo ou custo.
Solana se posiciona como infraestrutura de mercado de próxima geração
A adoção do framework ACE e os avanços combinados com BAM, DoubleZero e Alpenglow representam uma nova era para Solana. A rede está transicionando de uma blockchain de alta capacidade para uma plataforma de mercado de capitais programáveis, com microestrutura sofisticada e aptidão para execução sob demanda.
Para os setores de investimento digital e tecnologia blockchain, o movimento sinaliza maturação e inovação real: pela primeira vez, uma blockchain pretende oferecer controle sobre o flow de ordens como em sistemas tradicionais, mas mantendo princípios descentralizados. Se os próximos lançamentos cumprirem os prazos e forem bem aceitos, Solana poderá se consolidar como base técnica de uma nova classe de aplicações financeiras on-chain. A atenção, hoje, se volta ao desenvolvimento, testes em produção e adoção real por dApps com volume significativo de liquidez. Estamos observando o início de uma virada estratégica na maneira como o mercado financeiro pode funcionar na rede.