As stablecoins — criptomoedas com valor atrelado ao dólar — vêm ganhando cada vez mais espaço no Brasil, sobretudo entre fintechs que atuam em operações de remessas internacionais. Essas moedas digitais se destacam por oferecer rapidez e baixo custo em transações globais, reduzindo processos que antes demoravam dias ou semanas para apenas alguns minutos.
No cenário internacional, o crescimento das stablecoins já é expressivo, com um mercado que ultrapassa centenas de bilhões de dólares em emissões, dominado por moedas lastreadas no dólar. No Brasil, a tendência é semelhante: só em julho, o volume de operações com stablecoins superou em muito o de anos anteriores e, em determinados momentos, chegou até a dobrar os valores negociados em Bitcoin no país.
Fintechs assumem a liderança
As startups financeiras brasileiras foram as primeiras a apostar pesado nesse mercado. Empresas como Onda Finance já demonstraram o potencial dessa tecnologia ao multiplicar em poucas semanas o volume transacionado de dezenas de milhares de dólares para cifras na casa das centenas de milhões. Esse avanço é resultado da crescente demanda em operações de importação, exportação, comércio exterior e até em remessas pessoais. Outras fintechs também vêm explorando o setor, oferecendo tanto soluções diretas para clientes quanto infraestrutura para que outras empresas possam adotar stablecoins em suas atividades.
Bancos esperam regulação para se movimentar
Enquanto as fintechs ganham protagonismo, os bancos tradicionais acompanham o movimento de forma cautelosa. Instituições como Itaú, Nubank e BTG Pactual reconhecem o potencial da tecnologia blockchain e das stablecoins, mas evitam avançar sem uma base regulatória clara. O entendimento é que, pela magnitude e responsabilidade dessas instituições, não é possível correr riscos em um setor ainda em consolidação.
A boa notícia é que o Brasil caminha para definir um marco regulatório. A legislação que trata dos criptoativos já foi aprovada e agora passa por etapas de detalhamento por parte do Banco Central. Há grande expectativa de que, ainda neste ano, sejam estabelecidas regras claras para o funcionamento de emissores e intermediários, o que abrirá espaço para uma entrada mais consistente dos grandes bancos nesse mercado.
Infraestrutura e transparência
Outro destaque do setor é a presença de empresas especializadas em prover liquidez e dar suporte a operações institucionais, atuando como formadoras de mercado para bancos e corretoras. Essa infraestrutura garante maior transparência, já que todas as movimentações ficam registradas na blockchain, permitindo rastreabilidade total. No entanto, essa característica também levanta discussões sobre privacidade, já que nem todas as companhias desejam expor detalhes de suas operações comerciais.
Crescimento, riscos e futuro
Apesar de estarem em plena expansão, as stablecoins ainda representam uma fração do mercado cripto quando se fala em valor total. Mesmo assim, o volume diário de negociações já supera o de moedas como Bitcoin, o que demonstra sua utilidade prática no dia a dia. Globalmente, os pagamentos com stablecoins já superam volumes processados por grandes bandeiras de cartão, o que evidencia sua força no sistema financeiro digital.
Ainda assim, desafios permanecem. A concentração em poucas moedas, a dependência da paridade com o dólar e a transparência sobre as reservas que lastreiam esses ativos são pontos sensíveis. Casos de falhas anteriores em projetos de stablecoins também servem como alerta para os riscos que podem surgir.
No entanto, o movimento é irreversível: instituições financeiras de diversos países já criam suas próprias stablecoins ou se associam a grandes emissores para oferecer novos serviços. O Brasil, com seu mercado robusto e em rápido processo de digitalização, está bem posicionado para se tornar um dos principais polos de adoção dessas moedas digitais, unindo a força das fintechs pioneiras com a estrutura dos grandes bancos assim que o ambiente regulatório estiver definido.