A Tailândia está se firmando como um dos destinos mais atrativos para investidores de criptomoedas, graças a uma série de medidas fiscais que flexibilizaram a tributação sobre ganhos em ativos digitais. Desde o início de 2024, o país implementou isenções significativas no pagamento de impostos, incluindo a suspensão do IVA sobre negociações em exchanges licenciadas e a exclusão dos lucros com criptomoedas da base de cálculo do imposto de renda para pessoas físicas — contanto que o tributo de 15% tenha sido retido na fonte. Essas mudanças visam impulsionar o mercado local de ativos digitais, tornando a nação um polo regional de inovação cripto e capturando investidores nacionais e estrangeiros.
A isenção de IVA, que até então incidia sobre operações de compra e venda de criptomoedas, foi prolongada por tempo indeterminado a partir de janeiro de 2024. Essa medida tornou o trading de cripto significativamente mais barato, beneficiando tanto grandes players quanto pequenos investidores — e foi estendida também a transações envolvendo stablecoins e moedas digitais emitidas pelo Banco Central da Tailândia. Ao reduzir os custos de transação, o governo busca fortalecer um ecossistema interno de exchanges, wallets e startups, promovendo o país como um hub de tecnologia e finanças digitais.
No âmbito do imposto de renda, o governo tailandês também introduziu uma exceção relevante: investidores que obtiverem ganhos com criptomoedas e tiverem a retenção fiscal de 15% aplicada na fonte podem excluir esses ganhos do cálculo do imposto de renda anual. Ou seja, desde que a tributação inicial seja coberta, o lucro obtido com ativos digitais não aumenta a alíquota final, o que beneficia diretamente o investidor individual. Além disso, o governo liberou a compensação de perdas com ganhos obtidos em negociações, permitindo que os prejuízos apurados possam ser abatidos — recurso que antes era limitado e dificultava a gestão de risco do investidor.
Para o mercado corporativo, há incentivos suplementares: empresas que lançam tokens de investimento (investment tokens) estão isentas de imposto de renda – o que inclui ainda a dispensa do IVA para essas emissões. Com isso, o governo tailandês planeja atrair novas formas de captação de recursos, estimando a mobilização de cerca de US\$ 3,7 bilhões ao longo de dois anos. O movimento é visto como estratégico, impulsionando o financiamento de projetos inovadores via blockchain e criando uma dinâmica vantajosa para startups e empresas do setor.
A flexibilidade fiscal da Tailândia também estende-se a investidores estrangeiros. Residentes no país por pelo menos 180 dias ao ano são tributados sobre o ganho de capital em criptomoedas apenas quando os ganhos são trazidos para dentro do país no mesmo ano fiscal. Já os lucros obtidos no exterior e remessados posteriormente, em ano diferente, não são tributados — o que cria espaço para planejamento financeiro eficiente por parte de expatriados, nômades digitais e investidores estrangeiros.
No entanto, apesar do ambiente favorável, o país não deixou de impor regras de compliance. Para transacionar em exchanges licenciadas, o investidor deve seguir as normas do regulador local (Securities and Exchange Commission – SEC da Tailândia) e cumprir obrigações de reporte e documentação. Além disso, contratos, mineração de cripto ativos e recebimento de pagamento em criptomoedas são classificados nos termos do Código Tributário local — como rendimento pessoal ou empresarial — e submetidos à tributação conforme as faixas vigentes, que variam entre 5% e 35%.
Em termos de competitividade, a vantagem tailandesa frente a mercados como Índia ou países europeus é visível: iniciativas anteriores de taxação de 15% sobre ganhos de cripto entre 2022 e 2023 chegaram a ser suspensas devido ao forte protesto público, com o governo preferindo manter um ambiente menos hostil aos investidores. A Tailândia, por sua vez, adotou uma postura proativa, eliminando o IVA e oferecendo isenções como forma de estimular o crescimento do ecossistema digital.
Hoje, com um mercado de exchanges robusto, players consolidados e uma postura regulatória relativamente progressista, o país se coloca como destino-chave para quem busca investir em criptomoedas com custos operacionais menores e proteção jurídica. Essa combinação tem atraído não apenas investidores locais, mas também estrangeiros e empresas internacionais que veem na Tailândia um terreno fértil para inovação.
O cenário, contudo, exige atenção constante. As políticas tributárias podem sofrer ajustes, e o ambiente regulatório global, como acordos de intercâmbio de informações financeiras (Common Reporting Standard), pode afetar a visibilidade dos ganhos internacionais. Ainda assim, no momento, a Tailândia oferece um quadro fiscal mais leve e atrativo do que muitos países desenvolvidos – um verdadeiro convite para quem deseja explorar o universo cripto de forma estratégica, com equilíbrio entre incentivo e controle.
O país deu passos consistentes para se tornar um centro relevante de criptomoedas na Ásia. Com a redução de impostos, incentivos às emissões de tokens de investimento, e exclusões fiscais para indivíduos, a Tailândia se apresenta como exemplo de como a política pode se adaptar para incentivar uma indústria emergente, sem abrir mão de normas. Restará ver se esse modelo será sustentável a longo prazo e como responderá à evolução de riscos macroeconômicos e digitais — mas, por ora, o país avança com força no mapa cripto global.