A recente escalada de tensões comerciais entre Estados Unidos e China desencadeou uma verdadeira tempestade no mercado de criptomoedas. A simples ameaça do presidente dos EUA de impor uma tarifa adicional de 100% sobre importações chinesas levou a uma liquidação em massa de ativos digitais, com perdas que ultrapassaram US$ 19,28 bilhões em poucas horas.
O impacto foi sentido nos principais tokens: Bitcoin, Ether e Solana lideraram a sangria. Nas últimas 24 horas, cerca de US$ 5 bilhões em Bitcoin foram liquidados, enquanto Ether teve aproximadamente US$ 4 bilhões e Solana US$ 2 bilhões envolvidos na liquidação. Especialistas classificaram esse movimento como “o maior evento de liquidação da história das criptomoedas”.
A correlação entre mercados tradicionais e cripto ficou evidente: ao mesmo tempo em que esta liquidação vigorosa acontecia, índices como o Nasdaq e o S&P 500 registraram suas maiores quedas em seis meses. A pressão veio de um contexto macroeconômico instável, acirrado pelas retaliações e incertezas envolvendo comércio internacional.
O gatilho: tarifas e escalada da guerra comercial
O estopim foi uma medida anunciada por Donald Trump: cobrar 100% de tarifa extra sobre importações chinesas. A medida, ainda que apenas ameaça à época, gerou forte instabilidade nos mercados. A China, por sua vez, reagiu intensificando restrições à exportação de minerais essenciais, como terras raras — insumo vital para indústrias de tecnologia.
Assim, investidores em criptomoedas foram expostos a reflexos inesperados de um conflito comercial: o temor de impacto global resultou em liquidações automáticas e forçadas (stop-losses, margens estouradas etc.), que alimentaram ainda mais a queda.
Dinâmica das liquidações em cripto
No universo de ativos digitais, muitos investidores operam com alavancagem — ou seja, usam capital tomado emprestado para multiplicar exposição. Esse mecanismo amplifica ganhos em momentos positivos, mas também multiplica perdas em quedas. Quando o preço de um ativo cai abruptamente, as posições alavancadas são fechadas automaticamente (liquidadas) para evitar prejuízos maiores.
Essas liquidações desencadeiam um efeito cascata: elas geram venda adicional, pressionando ainda mais o preço para baixo, o que por sua vez aciona novas liquidações. Foi exatamente isso que ocorreu: uma forte queda inicial gerou liquidações massivas, que alimentaram novas quedas e mais liquidações — um ciclo de liquefação de valor.
Os ativos mais atingidos: Bitcoin, Ether e Solana
Entre os mais afetados, o Bitcoin registrou liquidações de cerca de US$ 5 bilhões. O Ether, token nativo da rede Ethereum, viu aproximadamente US$ 4 bilhões serem liquidados. Já a Solana, criptomoeda com histórico de forte volatilidade, perdeu cerca de US$ 2 bilhões em liquidações.
Em termos percentuais, Solana sofreu uma das quedas mais intensas: cotado em US$ 223,10, despencou para US$ 178,72 em poucas horas — queda de quase 20%. O Ether, por sua vez, chegou a recuar de US$ 4.365,63 para US$ 3.742,88 — queda de 14,2%. Já o Bitcoin acumulava uma queda de quase 10% nos últimos cinco dias até o momento da análise.
Implicações e riscos para o mercado cripto
Esse evento mostra, de forma cristalina, como o mercado de criptomoedas ainda é frágil frente a choques externos. Regulações, políticas comerciais, tensões geopolíticas e macroeconomia podem gerar reações desproporcionais no ecossistema cripto, especialmente porque muitos operadores atuam com alavancagem.
Outro ponto relevante é que, embora os mercados cripto se reivindiquem como uma alternativa descentralizada e menos influenciada por governos, eles não estão imunes às consequências de decisões políticas e econômicas globais.
A liquidação em massa também acende debates sobre a necessidade de melhores mecanismos de gestão de risco nos mercados cripto, como limitações de alavancagem extrema, circuit breakers ou sistemas automáticos que freiem movimentos descontrolados.
O contexto de adoção institucional
Não obstante o drama das liquidações, vale destacar que as criptomoedas vinham em fase de ascensão em meio a um cenário favorável. Os ativos digitais acumulavam ganhos desde que Trump assumiu o cargo, em parte motivados por sua nova postura mais amigável ao setor. Um exemplo disso é a ordem executiva que ele emitiu, permitindo que ativos digitais fossem incluídos em planos de aposentadoria do tipo 401(k) — uma iniciativa que impulsionou forte valorização do BTC, chegando a recordes próximos a US$ 124.000.
Esse movimento institucional e de legitimidade contribuiu para atrair capital mais sólido para o setor cripto, embora também o tenha tornado mais vulnerável aos ruídos macroeconômicos.
A liquidação de US$ 19,28 bilhões em criptomoedas desencadeada pela ameaça de tarifas dos EUA contra a China revela fragilidades profundas e interconexões entre mercados globais. Mesmo ativos digitais — muitas vezes vendidos como refúgios alternativos — não escapam à volatilidade advinda de conflitos geopolíticos e decisões políticas de grande impacto.
Para investidores, o episódio serve de alerta sobre os riscos embutidos no uso excessivo de alavancagem e na dependência de cenários externos positivos. Para o mercado cripto como um todo, reforça-se a urgência de mecanismos mais robustos de regulação e mitigação de risco. Afinal, em um mundo onde políticas comerciais e macroeconomia moldam fortemente os humores dos mercados, nem mesmo o Bitcoin está completamente isolado.