Kanye West, agora conhecido como Ye, surpreendeu o mundo ao lançar sua própria criptomoeda — o token YZY, parte do ambicioso ecossistema “YZY Money”, construído na blockchain Solana. A promessa do rapper é clara: criar uma “nova economia, construída em blockchain”, com soluções como o processador de pagamentos Ye Pay e o cartão YZY Card, reforçando sua proposta de fugir de intermediários tradicionais e colocar o controle direto nas mãos dos fãs.
O anúncio, feito via sua conta verificada no X, gerou um frenesi imediato. Em menos de uma hora, o token YZY atingiu impressionante capitalização de mercado de US$ 3 bilhões, antes de despencar para pouco mais de US$ 1 bilhão. O que aconteceu nesse breve intervalo foi uma verdadeira montanha-russa: o valor subiu vertiginosamente, mas logo houve uma liquidação intensa em que a maioria dos investidores registrou prejuízos consideráveis — um resultado marcado por ganhos expressivos de poucos poucos insiders, enquanto muitos ficaram no prejuízo.
O modelo de distribuição revela uma estrutura concentrada: 70% da oferta total do token está nas mãos da Yeezy Investments LLC, ligada diretamente à marca Yeezy; apenas 20% foi disponibilizada ao público, e 10% foi destinada à liquidez. Isso significa que o rapper e sua equipe detêm controle substancial sobre o fornecimento da criptomoeda, uma configuração que ganha relevância quando pensamos em volatilidade e descentralização.
Logo após o lançamento, dados on-chain mostraram que alguns traders “antecipados” — possivelmente com acesso privilegiado — sacaram lucros milionários em questão de minutos. Em uma transação, um desses investidores converteu cerca de US$ 450 mil em tokens YZY, que logo vendeu por cerca de US$ 3,4 milhões, garantindo uma valorização de mais de 700% em tempo recorde. Essa movimentação levantou suspeitas de informações privilegiadas e suscitou comparações com históricos casos de “pump-and-dump” associados a celebridades por trás de memecoins.
A arquitetura técnica do projeto também trouxe inovações com toques controversos. Foram lançados 25 contratos de token simultâneos, dos quais apenas um foi aleatoriamente escolhido como o oficial — mecanismo criado para dificultar bots caçadores de tokens (snipers). Além disso, a distribuição dos tokens pela Yeezy Investments LLC segue um plano de vesting (liberação progressiva) de até 24 meses, com tranches escalonadas. Em teoria, isso limitaria vendas abruptas por parte dos insiders; na prática, o controle concentrado permanece evidente.
No front cultural, o YZY acrescenta uma dimensão polêmica: antes de seu lançamento, Kanye chegou a criticar memecoins como exploradoras, afirmando que “moedas se aproveitam dos fãs com hype”. Essa contradição inesperada amplificou o choque para muitos fãs e observadores, podendo corroer a confiança no projeto.
No fim, o lançamento do YZY Money reúne todas as características que vemos em narrativas de alto risco em cripto: hype extremo, estrutura centralizada, lucros concentrados e quedas abruptas de preço. A velocidade desse ciclo — da explosão à implosão — deixa claro que tokens embalados por celebridades podem se tornar armadilhas para quem entra tarde na corrida.
Se Kanye West realmente pretende consolidar um ecossistema financeiro alternativo e legítimo, os próximos passos vão exigir transparência, entrega de utilidades reais e talvez uma redistribuição mais justa do token. Até lá, o YZY permanece como um espetáculo de poder midiático, mas também um alerta sobre os perigos de investir sem cautela — mesmo em projetos liderados por grandes nomes da cultura contemporânea.