Mesmo diante de um cenário global desafiador e de incertezas regulatórias, o Brasil continua sendo uma das regiões mais promissoras para o desenvolvimento do mercado de ativos digitais. Segundo a Coinbase, uma das maiores plataformas de negociação de criptomoedas do mundo, o país não apenas sustenta uma posição favorável no ecossistema cripto global, como também apresenta vantagens competitivas em relação aos Estados Unidos em termos de ambiente regulatório e abertura à inovação.
A avaliação foi feita por Faryar Shirzad, diretor de políticas da Coinbase, durante evento promovido pela empresa em São Paulo. De acordo com ele, o Brasil reúne uma combinação rara de fatores que favorecem o crescimento sustentável da indústria cripto: um sistema financeiro digitalizado, uma população conectada e receptiva à tecnologia, além de um ambiente institucional mais flexível para discutir e implementar regulações. Enquanto nos Estados Unidos a regulamentação de criptoativos segue travada em batalhas judiciais e indefinições legislativas, o Brasil avança com propostas concretas de supervisão e integração com o sistema financeiro tradicional.
Shirzad destacou que o país já deu passos importantes, como a sanção do marco legal dos criptoativos, que define diretrizes para empresas que atuam nesse setor. A criação de uma supervisão específica para prestadores de serviços em ativos virtuais (os chamados VASPs), sob responsabilidade do Banco Central, também é vista com bons olhos pela indústria. Segundo o executivo, esse tipo de clareza é fundamental para atrair investimentos, estimular a inovação e dar segurança jurídica aos usuários e empresas.
Outro fator que joga a favor do Brasil é o grau de digitalização do seu sistema financeiro, especialmente com a ampla adoção do Pix, sistema de pagamentos instantâneos que se tornou uma referência global. A familiaridade da população com meios digitais de pagamento e transações financeiras cria um terreno fértil para a adoção de soluções baseadas em blockchain, stablecoins e tokens. “O Brasil já está entre os países com maior uso de stablecoins no mundo”, afirmou Shirzad, ressaltando que esse comportamento revela o potencial do país como polo de inovação financeira.
A Coinbase vê o Brasil como uma peça-chave na sua estratégia global de expansão. A empresa iniciou operações diretas no país em 2023 e já firmou parcerias locais para facilitar a integração com o sistema bancário brasileiro. A presença de um time dedicado no país e o envolvimento ativo em debates regulatórios reforçam o compromisso da companhia com o desenvolvimento do mercado cripto no Brasil.
Apesar dos avanços, ainda há desafios a serem enfrentados. A falta de regulamentação específica para alguns produtos, como staking e finanças descentralizadas (DeFi), e a complexidade do sistema tributário nacional são pontos de atenção. No entanto, o cenário geral é considerado positivo por empresas do setor, que enxergam na atuação do Banco Central e na postura do Congresso uma oportunidade de construir uma regulação equilibrada, que não sufoque a inovação.
No cenário global, enquanto os Estados Unidos enfrentam embates entre reguladores como a SEC e empresas do setor, países da América Latina, como o Brasil, têm ganhado destaque por sua postura mais aberta ao diálogo e à construção conjunta de um arcabouço legal. Essa diferença de abordagem pode se traduzir em vantagens competitivas nos próximos anos, especialmente à medida que o mercado amadurece e busca ambientes mais estáveis para operar.
Em um momento em que a descentralização e a inovação desafiam os modelos financeiros tradicionais, o Brasil parece bem posicionado para se tornar um hub de desenvolvimento tecnológico e financeiro no universo cripto. A avaliação da Coinbase reforça essa visão e coloca o país como protagonista no novo ciclo de transformação digital global.