A Amdax, provedora holandesa de serviços de criptomoedas, está dando um movimento ousado ao anunciar a criação de uma nova empresa — a AMBTS B.V. — que atuará como uma “tesouraria com 1% de Bitcoin”, com a ambição de acumular até 1% de todo o suprimento de Bitcoin em circulação. Caso alcance esse marco, a AMBTS poderá deter mais de US$ 24 bilhões em Bitcoin, considerando os preços atuais, que gravitam acima dos US$ 115.800 por unidade.
A estratégia é clara: levantar capital em múltiplas rodadas junto a investidores privados para expandir as reservas de Bitcoin, fortalecer o patrimônio e elevar o valor de “Bitcoin por ação” para aqueles que comprarem cotas da empresa. A visão da Amdax vai além de simplesmente acumular criptomoedas — trata-se de estruturar um modelo corporativo moderno, com governança própria, com foco claro em potencializar a exposição institucional ao ativo digital.
A Amdax já detém um histórico relevante na regulação do setor cripto na Holanda: foi a primeira empresa do segmento a obter registro junto ao Banco Central do país em 2020, e, mais recentemente, recebeu licença sob o regime MiCA (Markets in Crypto-Assets Regulation), emitida pela Autoridade Holandesa para os Mercados Financeiros. Esse conjunto regulatório sólido oferece suporte operacional à nova empreitada da empresa, indicativo de seriedade e conformidade normativa.
No contexto europeu, a iniciativa da Amdax surge em meio a uma adoção crescente — mas ainda modesta — de Bitcoin por parte de empresas. Até agora, são pelo menos 15 companhias que publicamente incorporaram a criptomoeda em seus balanços, entre elas grandes nomes como o Bitcoin Group (Alemanha), Smarter Web Company (Reino Unido), The Blockchain Group (França) e a Satsuma Technology (Reino Unido), com quantidades que variam de aproximadamente 1.100 a mais de 3.600 BTC.
Essa movimentação abre caminho para uma transformação institucional curiosa: a criação de uma empresa cujo core business é simplesmente manter Bitcoin como reserva estratégica, com capital levantado especificamente para esse fim e com a intenção de ganhar acesso ao mercado público por meio da Euronext Amsterdam. Trata-se de um passo audacioso, unindo inovação institucional, captação de recursos estruturada e exposição cripto como ativo corporativo.
Se bem-sucedida, a AMBTS B.V. pode representar uma espécie de “ponte” entre mercados tradicionais e o universo dos ativos digitais, oferecendo ao investidor europeu (e global) uma forma regulada, transparente e negociável de participar da valorização do Bitcoin — sem a complexidade de custodiar o ativo diretamente. Funciona como um ETF corporativo cripto, mas com potencial de expansão de valor patrimonial alinhado à gestão empresarial.
Ainda existem desafios consideráveis, claro. Quantos investidores privados estarão dispostos a investir em uma empresa com esse propósito? O mercado europeuz dispõe de liquidez institucional suficiente para absorver tal emissão? Como a empresa garantirá governança sólida e transparente diante da exposição ao ativo digital? São perguntas que demandarão clareza e execução estratégica precisa.
Mesmo assim, a Amdax está se antecipando a uma hipótese cada vez mais discutida: a de que empresas podem adotar Bitcoin não só como reserva de valor, mas como base de estratégia financeira, impulsionando liquidez de formas inovadoras. Se a AMBTS B.V. conseguir listar na Euronext e demonstrar valorização real por ação, ela poderá inspirar um modelo replicável para outras regiões.
Em resumo, a criação da AMBTS destaca que o mundo financeiro europeu começa a estruturar uma via institucional para o Bitcoin — não apenas como ativo especulativo, mas como instrumento estratégico, com métricas corporativas, emissão, governança e valor negociável. Será um case a ser monitorado com atenção por investidores, reguladores e pioneiros do mercado cripto.