O Citi revisou suas projeções para emissão de stablecoins e reforçou sua visão de que os bank tokens — depósitos tokenizados ou tokens emitidos por bancos — podem eventualmente ultrapassar as stablecoins em volume de uso até 2030. A análise foi apresentada por Sophia Bantanidis, analista da equipe Future of Finance do banco, durante o evento DAS London 2025. O banco elevou a estimativa base para emissão de stablecoins de US$ 1,6 trilhão para US$ 1,9 trilhão até 2030, com cenário otimista de até US$ 4 trilhões. Mesmo com esse crescimento projetado, o Citi defende que os tokens bancários — com respaldo regulatório e familiaridade para corporações — tendem a ganhar vantagem operacional.
No relatório intitulado “Stablecoins 2030: Web3 to Wall Street”, Bantanidis descreveu o momento das stablecoins como o “ChatGPT da blockchain” para a adoção institucional. Ela destacou uma onda de empresas digitais incorporando stablecoins em aplicações reais — comércio, pagamentos, liquidações — e apontou que o forte interesse de grandes players está estimulando o crescimento. No entanto, ela enfatizou que stablecoins não serão a única solução monetária digital: segundo ela, os tokens bancários oferecerão recursos como programação embutida (smart contracts), compliance integrado e liquidação condicional que podem torná-los preferíveis para muitos usuários institucionais. O Citi estima que os volumes anuais dos bank tokens possam atingir US$ 100 a 140 trilhões com penetração moderada em rails de pagamentos de alto valor.
Por que tokens bancários podem superar as stablecoins?
Foram levantados diversos fatores que apontam vantagem para tokens bancários:
- Confiança institucional: empresas já acostumadas a lidar com bancos e reguladores podem preferir tokens emitidos por bancos, por comportarem-se mais como dinheiro tradicional regulado.
- Programabilidade e compliance embutido: tokens emitidos por bancos podem incorporar regras automatizadas de gestão, monitoramento e controle, facilitando auditoria e controle regulatório.
- Integração com infraestrutura tradicional: diferentemente de stablecoins privadas, tokens bancários são facilmente integráveis aos sistemas bancários existentes — contas, liquidações grandes, clearing — com menos atrito.
- Menor risco regulatório para corporações: muitos gestores institucionais podem evitar stablecoins por preocupações quanto à reserva, transparência e supervisão. Um token bancário tende a reduzir essas incertezas.
Bantanidis argumenta que corporações e tesourarias corporativas “otimizarão a liquidez globalmente” usando tokens bancários, favorecendo operações de grande valor e ajustando riscos de modo mais controlado.
Desafios e riscos no caminho
Apesar das vantagens, há obstáculos consideráveis:
- Regulação clara necessária: os regimes regulatórios precisam definir se tokens bancários são considerados depósitos, valores mobiliários ou instrumentos distintos, e assegurar supervisão consistente.
- Interoperabilidade: um token bancário bem-sucedido precisará operar entre bancos, jurisdições e plataformas sem fragmentação — desafio tecnológico e regulatório gigante.
- Qualidade das reservas e transparência: exigem auditoria, clareza das garantias e estabilidade para convencer usuários.
- Concorrência de stablecoins bem estabelecidas: apesar do ceticismo, stablecoins como USDT e USDC já têm escala, liquidez e ecossistema robusto. Encarar essa base não será simples.
Implicações para o mercado cripto e financeiro
A previsão do Citi joga luz sobre como o panorama de moedas digitais pode evoluir: não como uma “guerra” entre formatos, mas como um ecossistema híbrido onde stablecoins, tokens bancários e eventualmente moedas digitais de bancos centrais (CBDCs) coexistem conforme afinidade de uso, risco e regulação.
Para criptoempresas e startups, esse cenário exige adaptação: projetos que pensam apenas em stablecoins precisarão se preparar para interoperar ou competir com ofertas reguladas de bancos. Para investidores institucionais, uma vantagem clara é poder diversificar exposição digital entre ativos cripto e tokens com respaldo institucional.
Se os tokens bancários de fato assumirem protagonismo — como previsto pelo Citi —, poderemos ver uma migração gradual de grandes fluxos financeiros tradicionais para rails tokenizados sob supervisão regulatória. Isso pode redefinir como pagamentos interbancários, liquidações financeiras e movimentação de capital serão feitas no futuro.