Em meio ao crescente protecionismo econômico dos Estados Unidos, surge uma chance estratégica para as stablecoins não atreladas ao dólar. À medida que sanções e tarifas se tornam mais frequentes, empresas globais começam a buscar alternativas de pagamento e reserva de valor — e as stablecoins locais, como as atreladas ao real, euro ou peso mexicano, despontam como uma “apólice de seguro” contra o risco de interferências externas.
Essas moedas digitais oferecem dois benefícios claros. Primeiro, ajudam a fugir da volatilidade cambial interna, sem se expor à instabilidade do dólar. Segundo, permitem capturar remuneração na própria moeda local, aproveitando as taxas de juros domésticas — algo que stablecoins em dólar não proporcionam. Isso é especialmente relevante em mercados emergentes, onde a economia local pode ser impactada por fatores externos e o controle monetário interno é fundamental.
No Brasil, o uso de stablecoins em real já é bem consolidado. O país se destaca como o maior mercado fora dos eixos dólar e euro e já responde por uma parcela significativa do volume global de transações via stablecoins. O Pix facilita ainda mais esse cenário, permitindo a compra dessas moedas em reais com agilidade e baixo custo — um diferencial que reduz obstáculos e amplia a adoção.
Além disso, empresas europeias já adotam stablecoins em euro para enviar pagamentos ao Brasil, reduzindo custos de remessa e riscos cambiais. Ao mesmo tempo, multinacionais com operações em países da América Latina, África e Ásia começam a explorar stablecoins em moedas locais para transações transfronteiriças, consolidando essa prática como uma nova camada da infraestrutura financeira global.
Com isso, as stablecoins não apenas deixam de ser uma curiosidade tecnológica, mas passam a ocupar um papel estratégico nas finanças globais. Em um mundo cada vez mais fragmentado economicamente, ativos digitais que escapam da hegemonia do dólar ganham relevância — e o Brasil, com sua experiência avançada em stablecoins em real, aparece como protagonista nessa nova etapa da tokenização global.
