A estratégia do Banco Central para o Drex — Real Digital do Brasil — tomou uma guinada significativa. O projeto, que inicialmente operava com blockchain permissionada via Hyperledger Besu, será lançado em 2026 com uma arquitetura centralizada, totalmente integrada ao Pix. A prioridade agora é entregar funcionalidade real e imediata, abrindo mão da descentralização por enquanto, com foco em desempenho, segurança e governança.
Essa escolha pragmática representa a mesma lógica que impulsionou o sucesso do Pix: resolver um problema concreto primeiro, escalar rápido depois. O novo design permite processar mais de 100 mil transações por segundo, reduzindo o risco cibernético e unificando as operações sob a infraestrutura do Pix. Outros países adotaram caminhos semelhantes, como o projeto Hamilton (Fed de Boston + MIT), o e-CNY da China e o Sand Dollar das Bahamas, que também optaram pelo modelo centralizado em nome da eficiência.
Enquanto o Drex deixa o blockchain para mais tarde, o setor privado acelera. Vert Capital já tokenizou R$ 130 milhões em CRAs, com plano de chegar a R$ 500 milhões. O BTG Pactual opera o pioneiro Reitz, token imobiliário global. Iniciativas como Vórtx QR, Bee4, EkoToken (voltado à agrofloresta) e Recifes Digitais (focado em inclusão de nanoempreendedores) mostram que a tokenização segue firme no espaço privado. ANBIMA, em parceria com CVM e BC, está trabalhando em padrões técnicos e regulatórios para o futuro.
A nova arquitetura do Drex abre oportunidades interessantes no sistema financeiro brasileiro. Bancos poderão oferecer crédito imediato e mais competitivo, seguradoras poderão automatizar pagamentos por seguros parametrizados e financeiras terão meios de oferecer crédito garantido em tempo real, com baixo risco operacional. Mas há um risco latente: a atuação isolada de plataformas privadas e emissores pode provocar fragmentação tecnológica, dificultando a liquidez e elevando custos de integração se faltarem padrões claros.
Como contramedida, algumas boas práticas podem minimizar impactos: bancos podem implementar APIs abertas e separar a lógica de negócio da liquidação; plataformas e emissores podem adotar taxonomias de token e estruturas que facilitem interoperabilidade futura — preparando-se já para a esperada convergência entre Drex, Pix e tokenização privada.
O Brasil já opera com três forças transformadoras em paralelo: o Pix, o Drex e a tokenização privada. Isoladas, cada uma traz impacto significativo. Mas a verdadeira revolução virá quando conseguirmos alinhar prazos, regras e padrões técnicos — algo que demanda coordenação entre entidades como ANBIMA, Febraban, ABBC, ABCripto e ABFintechs.
A transição do Drex para uma solução centralizada pode parecer um passo atrás, mas na prática é um movimento estratégico. O foco agora é construir uma base sólida, ágil e segura, para depois retomar a ambição por uma infraestrutura descentralizada eficiente. Se esse caminho for bem guiado, o Brasil poderá alcançar uma integração inédita entre sistemas digitais, impulsionando inovação e inclusão financeira — com rapidez, segurança e visão de futuro.